20/03/2013

Atores sociais e políticos presentes no Movimento Água para Todos na cidade de Santa Cruz/RN



Blog do Wallace Maxsuel 
Por Joseni Santos
Em 1992 o Serviço Autônomo de Água e Esgotos – SAAE entrou em colapso total por não haver água para o abastecimento urbano e rural, diante deste fato restava aos moradores comprar água aos donos dos carros-pipas ou enfrentar as enormes filas nos inúmeros chafarizes públicos e provisórios que foram construídos no centro e nos bairros periféricos da cidade.
De tanto sofrer as consequências da falta de água, a população despertou para a luta por água de boa qualidade e começou a organizar-se sistematicamente para alcançar tal objetivo.
Com o fechamento do SAAE o estudante Jonas Martins Fialho – Presidente da União Secundarista dos Estudantes de Santa Cruz – USE juntamente com o funcionário do SAAE Iremar Vasco dos Santos concluíram que havia a necessidade premente de se fazer uma grande mobilização reivindicando água para o abastecimento da população de Santa Cruz.
Deste fato nasceu o Movimento Pró-água liderado pela USE e pelo Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Rio Grande do Norte – SINTE/RN, que convocaram todos os segmentos da sociedade para participarem.
Neste mesmo período, no Bairro do Paraiso, Wilson Bezerra Cavalcante, comerciante e líder do Bairro, juntamente com a Companhia Teatral Arte Viva, conclamavam as pessoas, através de uma difusora, a se unirem em busca de soluções para as dificuldades e o quadro de miséria que se apresentava em decorrência do longo período de estiagem que se abatia na Região do Trairi. Entre tais dificuldades, a mais premente era a questão da falta de água para beber, para o asseio pessoal e para a manutenção da casa, de modo geral. Este movimento ganhou a adesão: dos populares, do SINTE/RN; do SINDSAÚDE/RN; do Partido dos Trabalhadores – PT; do Partido Comunista do Brasil – PC do B; e do Partido Democrático dos Trabalhadores – PDT.
Deste movimento denominado MOVIMENTO ÁGUA nasceu o MOVIMENTO ÁGUA PARA TODOS que lutava contra a insensibilidade do poder público para com a classe desfavorecida de Santa Cruz – RN, luta estendida às demais populações do RN que passavam pelas mesmas dificuldades.
No dia 23.03.1993, com o apoio de Monsenhor Raimundo Gomes Barbosa, o então Pároco da Paróquia de Santa Rita de Cássia aconteceu no Centro Pastoral Silvana Pontes uma importante reunião em busca de alternativas que solucionasse de vez o problema de escassez de água potável. Estiveram presentes nesta histórica reunião representações políticas antagônicas que tentavam, num momento raro do cenário político nacional, unir forças objetivando um bem comum, sem levar em consideração as legendas partidárias que ostentavam.
Esta reunião foi realizada pela Campanha como Conviver com a Seca – Movimento de Cidadania, organizado pela Arquidiocese de Natal sob a coordenação de Monsenhor Expedito que pediu que não fosse servido água a nenhum dos presentes com o objetivo de sensibilizar as autoridades, pois eles sentiriam na pele, embora só naquele período, o que as pessoas necessitadas de água passavam no seu cotidiano.
Em 23.04.1993 a população fez um ato público em frente à Igreja Matriz de Santa Rita de Cássia e chegou à conclusão de que o País deveria tomar conhecimento da real situação pela qual o município passava, então dirigiu-se ao Tira Chapéu e tomou a BR 226 impedindo a passagem de veículos, exceção feita às ambulâncias e carros pipas do governo, até que a imprensa nacional noticiasse o estado de calamidade no qual os santa-cruzenses se encontravam, devido à escassez da água.
A partir deste momento, HUGO TAVARES DUTRA foi designado a desempenhar o papel de relações públicas dos sem-água e, juntamente com a Direção do Movimento de Cidadania (MONSENHOR EXPEDITO), com MONSENHOR RAIMUNDO GOMES BARBOSA, com a participação do POVO, sindicatos de classe e representações de alguns partidos políticos, iniciou-se a LUTA PELAS ADUTORAS.
O caminho percorrido foi tenso e permeado de reuniões e encontros políticos com os diferentes segmentos da sociedade.
Do MOVIMENTO ÁGUA PARA TODOS surgido no segundo semestre de 1993 até 30 de setembro de 1998, muitos discursos foram proferidos e muitos estudos realizados para se avaliar as possibilidades e os tipos de projetos que seriam viáveis tanto no aspecto econômico como no ecológico. Em fevereiro de 1996 foi criada a Secretaria de Recursos Hídricos – SERHID para desenvolver a Política Estadual de Recursos Hídricos.
No transcorrer dessa história algumas lideranças políticas do RN foram contra a implantação do Projeto Adutor, no entanto, ao longo do tempo esta oposição foi modificada resultando numa união histórica de parlamentares defendendo emendas e verbas estaduais e federais para a viabilidade do referido projeto.
Muitas reuniões foram realizadas sempre com a presença de políticos regionais e estaduais, a Igreja Católica (Monsenhor Expedito) e outras personalidades da Igreja, a imprensa falada e escrita, que também desenvolveu um papel de suma importância na divulgação de informações, e a população.
Nas situações adversas ressaltamos a luta dos SIBARITAS – nome dado por Monsenhor Expedito àquelas pessoas que eram contra a transferência da água da Lagoa de Bonfim via sistema adutor para as localidades necessitadas.
Um fator decisivo para que a política das adutoras se concretizasse, especialmente para Santa Cruz, foi a intervenção de MONSENHOR RAIMUNDO GOMES BARBOSA que na época fazia 32 anos de exercício sacerdotal na Paróquia de Santa Rita de Cássia.
Além de participar do movimento geral da luta pela água, MONSENHOR empenhou-se em organizar o movimento “ADUTORA SIM, VOTO SIM: ADUTORA NÃO, VOTO NÃO” cujo objetivo era pregar o voto nulo nas eleições de 03.10.1998 – Senador, Governador, Deputado Federal e Estadual – se até 02.10.1998 o Sistema Adutor Agreste-Trairi-Potengi não fosse inaugurado em Santa Cruz.
Nas missas Monsenhor Raimundo informava a situação em que se encontrava o projeto e alertava para o fato de que se o seu objetivo final não fosse atingido deveriam todos optar pelo voto nulo. Colocou na torre da Matriz uma faixa contendo o tema do movimento. Essa faixa só foi retirada quando ocorreu a inauguração da Adutora.
E muito se lutou – uns contra, outros a favor – mas o povo venceu e, no dia 30 de setembro de 1998 na presença de uma grande multidão, de autoridades políticas e eclesiais, a Adutora Monsenhor Expedito foi inaugurada em Santa Cruz – RN.
Francisca Joseni dos Santos – Professora
Psicopedagoga
Mestranda em Docência da Educação Brasileira
Gestora da Rede Municipal de Natal – RN
  • Recorte de pesquisa realizada para a monografia “OS ATORES SOCIAIS PRESENTES NOS MOVIMENTOS EM PROL DA ÁGUA EM SANTA CRUZ – RN” para o Curso de Especialização em Identidade Regional: A Questão Nordeste – Universidade Regional do Cariri. Ano 2003
  • Publicação no livro (Des)alinho – Ensaios de História Cultural e Social – Organizadores: Cátia Regina de Pontes Confessor e José de Arimatéia Rodrigues da Silva – ano 2004 – Editora Idéia – João Pessoa – PB

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